
Lei Divina
Assim que chegamos à Terra é preciso viver, e durante toda nossa vida estamos à procura do melhor jeito de desempenhar essa tarefa. Mas como viver uma vida plena e intensa, se de ante mão já sabemos que ela se esvai, sempre.
Como podemos nos ater à vida e ao mesmo tempo respeitar o seu ritmo próprio que nos levará com toda a certeza até a morte?
Nosso drama é não saber porque estamos aqui neste planeta e não saber por quanto tempo estaremos aqui, nem quando nem porque vamos deixar de estar aqui na Terra. É como se fôssemos reféns da nossa ignorância.
Temos 200 mil anos de existência e ainda poucas pistas sobre como viver uma vida que faça sentido. E por que não nos dedicamos a descobrir mais sobre a nossa vida? Talvez porque pensar traga a dúvida, e com a dúvida a incerteza. E não gostamos de não estarmos certos. Estar certo parece que traduz a sensação de estarmos seguros.
Mas se temos pouco conhecimento sobre nós um bom começo para desvendar os mistérios que nos rodeiam seria entender de onde viemos e como chegamos à Terra.
Pra explicar a nossa origem os astrofísicos nos falam das estrelas supernovas. A astrofísica acredita que as explosões dessas estrelas, que acontecem randomicamente na Via Lactéa há aproximadamente 14 bilhões de anos, são a chave para a compreensão da vida. Essas explosões são a morte das estrelas e a energia produzida por essas mortes formam tudo o que é vivo, inclusive nós. Segundo a ciência astrofísica tudo o que habita a Terra – humanos, oceanos, céus, montanhas, orquídeas, abacates, tubarões, pedras, papagaios e tudo mais que possamos pensar – é apenas um aglomerado de átomos. Essa teoria nos faz igual a qualquer outro ser vivo.
Olhando à nossa volta percebemos que muitas coisas se originam das mortes. E aos poucos vamos reparando que tudo no mundo segue essa lei divina: nascimento e morte.
Conheci a morte através do meu caçula, que morreu com 14 anos de neuroblastoma. Depois da chegada da morte percebi com muita intensidade o que estava por vir: não mais seria possivel ouvir a voz do meu caçula nem receber os incontáveis beijos e abraços que ele me dava.
Aceitei a presença da morte e no último dia de vida do meu filho caçula, enquanto ele dormia, eu me deitei na cama dele, de lado, e falei bem suave “filho, a mamãe está aqui”. Ele me ouviu e depois morreu. Esse foi um dos momentos mais nobres da minha vida, o momento em que o meu caçula partiu, sozinho, rumo a um horizonte infinito do qual eu já não fazia mais parte.
Aprendi que aceitar o fim de todas as coisas e de todas as pessoas que amamos pode ser um bom começo para uma vida plena.
Apesar das nossas limitações e das determinações da morte podemos escolher viver uma vida alegre cultivando sempre os bons pensamentos e os bons sentimentos que nos fazem capazes de celebrar com contentamento o tempo que temos para viver aqui na Terra.
Graziela Gilioli, 2015
Foto © Graziela Gilioli, São Paulo , Brasil